TÍTULO. Coração na mão
É o terceiro ano em que participo neste maravilhoso projecto.
Este ano, ainda mais desafiador, tal como tudo o que tem vindo a acontecer, num ano em que tanto se põe em causa.
Desde que mudei o meu percurso profissional, decidindo materializar as peças que imagino, fazendo sacos onde se transportam vidas, carteiras com segredos, chapéus com pensamentos.
Em cada ano, desafiei-me a fazer algo que não se vende, algo meu, de dentro, uma entrega.
Acabada de dar o salto para este novo espaço, na cidade que considero minha, este maldito bicho veio mostrar-me, mostrar-nos, que tudo está, sempre, por um fio. Um fio de linha, o fio da tesoura. Cortar e coser para sobreviver. Isolar-me no atelier para manter a mente sã, e enviar pacotes do que faço, da minha cidade para outros pontos do país e do mundo é o que torna o meu emaranhado de veias, vivo e feliz.
Não tenho uma janela que sirva de montra. Mas, todos nós podemos mostrar o nosso eu.
Este ano, moldei com papel e tubos e tecidos, uma representação do que acredito ser o futuro. Que trabalhar com as mãos vem de dentro. Que essa coisa lamecha do amor, não é algo apenas romântico. Que podemos amar o vizinho, o amigo, o outro. Dizer isso no dia a dia, com as mãos e com a boca. Dizer mesmo com actos, sem medo ou máscara.
Neste ano, pela primeira vez senti que a minha cidade me viu, nas pessoas que me rodeiam. Cresci. Foi o que fiz neste confinamento.
Mais ainda, neste ano, nesta semana, vi o amor expresso na minha cidade, quando alguém muito querido nos partiu, deixando a cidade de luto e a janela da internet invadida por ele.
Este trabalho é dedicado ao Edgar, que através de uma lente, mostrou a nossa cidade, e foi para nós, uma verdadeira janela, contendo nele, o mais puro coração.
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