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TÍTULO. Vaidades de Lã num Wasan Imper
(Vaidades de Lã num Wasan Imperfeito // Bolas feltradas à mão com lã portuguesa e tirolesa, arame, painel de acrílico).
As Vaidades são um regresso ao início da minha procura da forma em lã feltrada, a esfera que em toda a sua tridimensionalidade já me tinha mostrado uma complexidade subtil que explorei pouco na procura de limites do material.
A esfera é o corpo sólido do círculo, e Wasan é a expressão estética da matemática Japonesa durante o período Edo (1603–1867). No início de Wasan os seus estudiosos abordaram aspetos práticos da matemática, relacionados com área e volume, no entanto continuou a evoluir para um sistema de cálculo e de problemas cujas conclusões estavam baseadas na beleza das composições, com um gosto especial pelas questões sobre círculos, cujos estudos demonstram exercícios sobre número de círculos, afastamento, justaposição e até considera-los elipses em desenhos que são uma expressão simples de uma imensa complexidade.
As Vaidades de Lã num Wasan Imperfeito são o meu exercício de cálculo, num estudo sobre esferas de lã feltrada, são um cálculo imperfeito pois derivam de um suporte orgânico, cada bola é quase igual à sua irmã, mas são únicas. O cálculo foi aplicado nos planos X, Y e Z numa procura de expandir a tridimensionalidade da esfera à mesma do espaço.
As respostas deste estudo foram eloquentes e uma surpresa pelo equilíbrio da limpeza geométrica com a natural origem orgânica das suas células. Cada uma das composições produz uma sensação de antecipação e profundidade. Um suspense em cada curva, encontramos beleza não na coisa em si mas nos padrões, nas sombras e na luz que uma coisa contra a outra faz.
SOBRE A ARTISTA.
O trabalho da Ana Rita de Albuquerque é como um condensador quântico da historia da lã, que começa nesta matéria prima, primordial à humanidade e vai até à computação física e sensorial.
Por entre um organizado e programado emaranhado de tecnologia wearable e fibras de lã feltrada, há uma história contada numa linguagem singular e própria. Esta é descrita pela artista como uma espécie de abstração orgânica, que explora a forma e a escultura como veículos sensoriais e afirma a feltragem como um suporte expressivo contemporâneo, de uma plasticidade permanentemente mágica, renovável e reativa.
Com um respeito pelos materiais e pelo processo que requer uma atenção gentil, pessoal e paciente, a educação faz parte de muitos e relevantes projetos numa carreira densa, corolada pela diversidade e pela amplitude experimental, naturais ao animal artista que é a Ana Rita.
“Assegurar a continuidade da aprendizagem da Feltragem e a capacidade técnica de novos e competentes intervenientes é muito importante. Fazer bem feltragem, é ter noção que a nossa capacidade de expressão e de criação, para ser autêntica, requer energia proativa, compromisso, respeito e compreensão pelo material e sua origem. Sobretudo paciência e estamina”.
“Profeticamente” Natural da Covilhã, apesar da descoberta e transição para a feltragem como media ter acontecido nos Países Baixos, gosta de acreditar que essa teve algo a ver com o ter nascido na cidade da lã. Neste momento o epicentro de todas as operações do atelier é no centro de Portugal.
O atelier é oficina, armazém, escritório e palco de produções, mas o seu trabalho, como as pessoas mais marotas, vai para todo o lado.
Ana Rita de Albuquerque 2020 // Correção por Miguel Barbot
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