19.12.14

19 de dezembro I VÂNIA KOSTA

artista. Vânia Kosta
título. Fragmentos


 Para esta edição do Calendário do Avento, escolhi uma das minhas peças mais recentes. Criada em 2014, foi apresentada pela primeira vez, na 9º Edição dos Elementos à Solta, na Aldeia da Cerdeira na Serra da Lousã. 

 Escolhi assim a peça “Fragmentos” para espreitar através desta janela da cidade. Hesitei entre a peça, “Um pedaço do céu em retalhos”, como o desejo perpétuo de alimentar esse lugar para onde muitas vezes deixo reencontrar o meu olhar. Mas, “Fragmentos”, marca um vento de mudança e eu anseio por essa mudança já faz algum tempo. E está na hora.

 Esta peça, exposta à janela com um ponto de luz, é um painel em tecido iluminado de forma ténua, o suficiente para realçar os desenhos, as formas, os espaços entre os fragmentos de tecido que o compõem. 

 Sobre a peça, escrevi: 
“Recortando as formas em tecido que ia criando, no chão, com os pequenos fragmentos que caíam, das formas que nasciam naquele instante, nascia também afinal [no chão] outra linguagem plástica. Na altura não prestei a mesma atenção a esses fragmentos. Mesmo não conhecendo ainda a importância que hoje ganhariam na minha criação plástica, não fui simplesmente capaz de os ignorar e deitar fora. Juntei-os num saco, num caos de fragmentos que um dia sabia apenas que iriam dar forma a algo novo. Não sabia bem quando e o que seriam, mas sabia apenas que sim. Por algum tempo permaneceram no saco, guardados naquela prateleira lá no alto e para onde olhei algumas vezes. Não sabemos ao certo quando volta a acontecer. Sabemos apenas que será um dia e sem procurar explicar coisa alguma sabemos quando começa a acontecer. Começamos a sentir e a expressão do gesto dá por fim forma material a esse desejo de criar. Na altura fui colocando esses fragmentos num saco, ainda sem ter bem certeza de coisa alguma, era como se já soubesse que o vento da mudança estava para chegar. Certo dia. Naquele dia. Lembrei-me desses fragmentos e alcancei-os daquela prateleira lá no alto. Com os fragmentos espalhados sobre a mesa, olhei-os de novo. Aleatoriamente fui juntando alguns. Sobrepondo outros. Comecei a unir todos eles com alfinetes. Tantos alfinetes os mantinham unidos de novo como um só. E do caos de fragmentos sobre a mesa nasceu uma nova linguagem plástica. Uma linguagem que se descobre a cada momento. E eu já sinto esse vento de mudança. O tempo, as nossas experiências, os conhecimentos que vamos adquirindo, a vontade de continuar a caminhar e a expressar-me através desta linguagem, apuram a nossa técnica, a nossa mestria, o nosso gosto, a nossa estética, o nosso sentir, o nosso expressar. E sem tentar explicar coisa alguma, apenas com pequenos fragmentos, construo de novo o meu caminho, uma forma de linguagem.” 

by vânia kosta


sobre a mesa vários fragmentos de tecidos...



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