MÓNICA FAVÉRIO
Chamaram-me Mónica Favério, calhou que nasci perto do lago de Como, cerca de sessenta anos atrás.
Contavam que desde pequenita sabia desenhar bem mas o que eu gostava na realidade era tocar piano. Meu pai queria que eu estudasse filosofia. Rasguei folhas de ciências humanas e furei notas de música permutando os sonhos em vidros, um meio caminho andado, como no conto do vestido de rede da da Madama Cirimbriscola.
Me pareceu a matéria que mais tinha a ver com as frequências quebradiças da minha alma. Assim aprendi a mexer esta substância encantadora e sedutora como o canto das sereias. Desde então, segui pegadas, tracei percursos, percorri corta matos, mergulhei no deserto tentando transformar a areia em vidros coloridos. Concavidades, convecções transparentes como um grito, opaco como um som abafado, o vidro, invisível e traiçoeiro como o vestido do Rei que vai nu. Grande e inconstante desafio que me persegue.
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