19.12.12

*19 de dezembro*


autor. Mercearia do Senhor José Braga
título. A Mercearia



[técnica. objectos da mercearia. corrimões, saco de colorau, saco de nozes, abanador, um novelo de corda de sisal e fio do norte]


 É na esquina… a mercearia. Bem no centro da cidade. Permanece, apesar das desventuras do mercado atual. 

 O colorido dos artigos visíveis, na sua forma peculiar de exposição, a traça genuína da madeira velha e escura das prateleiras e do balcão, caracterizam-na.

 Por dentro tem alma! Alma! A cortesia e atenção ao freguês (mesmo que compre cinco reis de nada) e a agilidade no aviar da sua pressa marcaram o seu modo de ser! Embrulhos em papel pardo atados com fio de juta ou corda de sisal, de tal modo bem feitos. O colorau avulso, os corrimões de açúcar amarelo, as vassourinhas de palha e as vassouras número 8, o sabão rosa da confiança, o macarronete riscado e o som da faca que corta o bacalhau, como desejar. Nozes, passas, pinhões e pinhas…tem tudo! 

 Dela são os fregueses, que procuram o artigo, o sentir e a confidência. Os turistas que passam e vitoriam a sua imutabilidade e dela furtam retratos. São dela também os fornecedores, que preservam a consideração, recíproca, de muitos anos de uma relação de (mais que) negócios, que jamais vemos no cosmos da mercancia atual. Dela são todos que ao olhá-la, sorriem! 

 Quanta vida dá a quem com ela convive?! 

 Gosto da mercearia! Muito! E queria vela sorrir mais tempo, de outra forma, mas não é minha. 

 Neste momento encontra-se no advento do seu desfecho. 

 Um cair do pano com aplausos infindáveis a quem soube mante-la assim, até ao fim! 

texto. Ana Braga




 *uma nota pessoal. 

 desde o instante em que comecei a idealizar este calendário de adventos'12, eram várias as histórias que gostaria de partilhar com todos através destas janelas. este calendário de adventos ganhou forma, pela primeira vez, nesta rua da cidade e esta rua da cidade é também ela habitada por muitas histórias. algumas continuam a existir nas palavras deste ou daquele vizinho que com alguma saudade relembram tempos que pertenceram a este lugar e a eles mesmos. é tão bom ouvir, "bom dia menina" e sem contarmos seguir-se uma bela história pela manhã. não daquelas histórias que se contam de noite para adormecermos. mas aquelas histórias que nos contam para despertar o olhar e os sentidos. histórias que nos podem ajudar a manter despertos para os pormenores que podemos continuar a descobrir na cidade e nas pessoas. eu adoro ouvir estas histórias e julgo que uma deveria, por todas as razões da cidade, fazer parte desta janela. fico feliz por me terem deixado, naquele dia, fazer estes apontamentos da mercearia da cidade. da mercearia por onde sempre passei. que sempre conheci tal e qual continua a ser até hoje. para fazer parte deste calendário convidei esta mercearia e as pessoas que lhe dão rosto todos os dias. aqui um enorme Obrigada.

texto. Vânia Kosta

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