4.12.12

*4 de dezembro*


autor. Helena Zália
título. s/título

[técnica. técnica mista]

 A arte da costura remete para as minhas primeiras memórias de infância. Diariamente via a minha mãe usar artefactos que me despertavam uma enorme curiosidade. Os tecidos1, linhas, agulhas, tesouras e dedais ocupavam constantemente as suas mãos … os seus pés sempre em movimento, num ritmo ora mais lento, ora mais acelerado, no pedal da máquina de costura de um verde azeitona2 … e eu via crescer uma saia, um casaco, uma blusa, um pijama, …, por vezes um vestido para as bonecas :D. 

 Outras vezes usava umas rodas finas de madeira, que se encaixavam duas a duas para prender o tecido,  e umas linhas muito coloridas, em meadas ou em carrinhos de linhas matizadas3, e surgiam dali formas bordadas que me deixavam com os olhos esbugalhados e o coração a abarrotar de felicidade. As revistas de moldes e “feitios” andavam sempre cá por casa, e de certeza que foi este o primeiro contacto que tive com desenhos e ilustrações. E nasceram daqui várias paixões que se expandiram em várias direcções. 

 Esta peça criada agora por mim, tenta representar tudo isto, sobretudo o carinho entre uma mãe e uma filha e a transmissão geracional de conhecimentos, e em simultâneo transcender estes momentos de criança. 

 A forma circular4 como a nossa envolvência e a busca de algo mais perfeito, os retalhos que dão forma ao nosso ser, as linhas que nos ligam aos outros e ao mundo, os nossos corpos5 vestidos e despidos, as roupas que expõem, e quase sempre escondem o nosso eu mais íntimo6. E no fim … um carrinho de linhas pendurado que ultrapassa estes limites formais e que se vai desenrolando dia após dia.

1 – Tecidos de fabrico português, muitos deles produzidos nas fábricas têxtéis do Vale do Ave.
2 – Máquina de costura OLIVA (produzida em S. João da Madeira).
3 – Geralmente, linhas Âncora da Coats & Clark, Cia, de fabrico português.
4 – Bastidor (marca OLIVA)
5 – Boneca de fabrico português
6 – O artigo Debaixo da roupa, estamos todos nús de José Luís Peixoto também me inspirou nesta criação

[Nota: tive uma preocupação em usar nesta criação objectos de fabrico português, alguns dos quais fazem parte da minha infância e já ultrapassam os 40 anos de existência

texto: Helena Zália

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