18 de dezembro I Vânia Kosta

autora. Vânia Kosta

título. construo a minha casa todos os dias

[objecto. caixa que é uma casa que é também um relógio de parede]

 por estes dias voltei a escutar esta música. [Cinematic Orchestra - To Bild a Home com Patrick Watson] quando a escutei pela primeira vez tive vontade de chorar. chorei com uma sensação de preenchimento e não de tristeza. percebi a importância da consciência que tenho de que construo a minha casa todos os dias.  este pensamento despertou uma série de imagens e desejos. tive uma vontade arrebatadora de expressar esse sentimento, materializando-o numa colecção de trabalhos que gostaria de partilhar com os amigos e com as pessoas mais próximas, numa exposição. já pensava até numa data especial e de celebração para mim mas avistando a proximidade do dia sabia que não teria tempo suficiente para preparar essa exposição da forma como já a imaginava. mais tarde ocorreu-me que pelo menos poderia habitar uma das janelas deste Calendário do Advento com uma pequena materialização desse desejo. ainda que apenas num único apontamento. o título poderia ser mesmo esse, “construo a minha casa todos os dias”. 

 hoje, habito a janela do dia 18 de dezembro deste Calendário do Advento de 2013, com uma simples caixa de cartão. uma caixa que é uma casa. uma casa que é também um relógio de parede. com tecidos vesti esta caixa que poderia ser uma casa. uma caixa onde poderia guardar segredos. onde poderia guardar pequenos tesouros. e se nela abrisse pelo menos uma janela? através dessa janela poderia partilhar alguns desses apontamentos. poderia libertar alguns desses tesouros. uma caixa que poderia ser uma casa. uma casa que é uma caixa. uma casa que é também um relógio de parede. e nesta caixa alguns apontamentos por descobrir. uma casa que apela aos sentidos. o guardar. o esconder. o desvendar. o descobrir. este apontamento aqui. outro que espreita dali. e de repente sentir um aroma fresco de alfazema. envolver os sentidos escutando ainda um tic-tac de tempo para ajudar a lembrar que hoje também é um bom dia para construir a minha casa. e construo-a todos os dias. construo-a de histórias que acontecem. de pormenores que despertam a minha atenção todos os dias. construo-a de memórias. construo-a de pessoas. construo-a de amizade. construo-a de partilhas. construo-a de cumplicidades. construo-a de choros e de alegrias. construo-a de pequenos momentos. meus. teus. nossos.

 em miúda também construía casas com caixas de cartão. nesses tempos pintava-as com guaches. hoje visto-as com tecidos unidos com pontos de linhas de bordar. coser um botão aqui. outro acolá. desenhar linhas com as linhas de bordar. marco linhas que são caminhos. tantos caminhos que se cruzam. tantos caminhos que vão dar ao mesmo lugar. esta caixa poderia ser uma casa. esta caixa é uma casa. tic-tac e o tempo passa. ainda tenho tanto para construir na minha casa. o relógio ajuda a lembrar que todos os dias são bons dias para sonhar. 

[um pequeno pormenor. embora não se veja nesta imagem e prometo que amanhã faço mais e melhores fotografias desta peça, quem espreita da rua esta janela, consegue ver este pormenor que  coloquei suspenso nesta caixa. nesta caixa que é uma casa. que também é um relógio de parede. coloquei uma outra casa que é uma caixa de música. foi a minha primeira caixa de música quando ainda era muito pequena. ainda a tenho. ainda escuto a música que toca e faz-me voltar a outro tempo. a menina que rega continuamente dentro desta caixa de música lembra-me hoje este desejo também continuo de que “construo a minha casa todos os dias”]

[hoje fui à rua espreitar a minha janela!]

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peça para venda.

relógio de parede // caixa de cartão forrada com aplicações em tecido com relógio incorporado (a caixa de música e a boneca não são incluídos) - p.80
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