Numa singela tentativa de trazer ao nosso olhar o encantamento que as descobertas diárias das janelas deste Calendário do Advento já nos habituou, comecei por imaginar a obra para esta edição. Mas não há como não questionarmos a pertinência de continuarmos a fazer de certo modo e seguir com as nossas próprias vidas, quando noutros lugares conflitos persistem e há vidas em suspenso ou a serem simplesmente apagadas. Quero acreditar que não me esqueço, nem sou indiferente a tantos outros lugares neste instante presente. E sinto uma responsabilidade assombrosa nessa ideia de lugar que queremos projectar e reconstruir. Foi assente nesta ideia de lugar, que quis com a ponta dos dedos e o olhar, nesta travessia de gestos sobre os tecidos e os fios, procurar essa linha que nos possa guiar na busca desse lugar real e imaginário. E embora as obras sejam ou pareçam delicadas e leves, também carregam memórias que nos moldam por vezes numa dualidade de sentimentos, e carregam também a responsabilidade assombrosa de cada uma das nossas escolhas para a reconstrução desse amanhã. Apesar desta dualidade de realidades neste mesmo espaço-lugar, não tenho como não continuar a perseguir esta liberdade em acreditar, em continuar a perseguir a esperança na reconstrução desse lugar.
A partir de dia 1 de dezembro, darei portanto início a esta 10ª edição do Calendário do Advento. À semelhança do ano passado, aqui estarei a partilhar cada um dos 24 pormenores da obra cartografias poéticas de lugares imaginários que criei propositadamente para esta iniciativa. Convido-vos a embarcarem comigo nesta viagem.
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