também através de outras janelas já espreitei e sorri.
não sei quando terei usado, pela primeira vez, uma janela, para comunicar com o mundo do lado de fora. ao longo dos anos, com pequenos objectos que suspendi nas janelas, fui contando pequenas histórias. só mais tarde, muito mais tarde, fui percebendo a forma como as minhas janelas se transformavam com esses pequenos apontamentos. a forma mágica como se tornavam contadoras de histórias. só mais tarde percebi a importância que estas mesmas janelas assumiam na minha forma de ver e sentir porque através dela também me fui descobrindo.
mas este projecto Janela Adentro [uma história à janela] nasceu muito mais tarde. mas não ignoro todos os gestos primeiros, todas as intervenções que antes já havia criado nas janelas da casa onde cresci, nas janelas de outras casas por onde fui viajando, em todas as janelas afinal existiu sempre um apontamento, um pedaço de mim.
nesta janela, nesta exacta janela da cidade, contei algumas das minhas histórias. convidei outros autores a habitarem-na com as suas histórias também. uma janela que me encheu de luz, que me ligou a tantas pessoas e a tantos lugares. uma janela que esteve sempre de olhar desperto e luminoso para esta rua da cidade. uma janela que se transformou para mim em algo extraordinário e que para sempre irá continuar a existir, seja onde estiver. neste ou noutro lugar, existirá sempre uma janela que me liga a este desejo de continuar a sonhar.
[na imagem. intervenção numa janela da Rua D.Afonso Henriques, Braga // 2007]